Todos nós guardamos palavras não ditas. Confissões de amor que não foram feitas, pedidos de perdão não proferidos, a saudade que não foi mencionada, o arrependimento que não fora externalizado, a atração não revelada, angústias não confessadas. Somos feitos de sentimentos belos e intensos, um rio caudaloso que nos atravessa, que corre em nós transbordante. Embora, sentimos muito, mas dizemos pouco.
Talvez tenhamos medo de nos expressar porque não sabemos se são capazes de nos compreender, se são capazes de sentir o que sentimos. Somos cercados de emoções tão vivas, mas ao mesmo tempo tão confusas. Para nos expressar, primeiro precisamos compreender o que sentimos, e acho que essa é a parte mais difícil. Compreender o que se passa dentro de nós é muito complicado. Como descrever o indescritível? Como definir sentimentos tão complexos com palavras que possuem significados tão limitados e que são incapazes de carregar nossas ternuras? Acho que existem coisas no mundo que vão além do que os olhos possam ver e do que as palavras possam expressar. Existem coisas que são apenas de sentir, e nada mais.
Eu sempre me defini uma pessoa intensa, eu sinto muito, mas digo pouco, sei ser intensa no sentir, não no falar. No entanto, palavras não ditas são sentimentos guardados, e que, assim como um rio que transborda após uma forte chuva, uma hora ou outra extravasam.
É por isso que acredito fielmente que devemos externalizar o que sentimos e pensamos, por meio da escrita ou qualquer outro meio. Nem tudo precisa ser dito, mas certas coisas precisam se aflorar para além de nós. Escrever, por mais que ninguém leia, é um ato de compaixão com nós mesmos, para que não nos afoguemos nas nossas próprias emoções.
Eu já escrevi algumas cartas, não muitas, mas todas elas foram essenciais pra que eu pudesse passar pelo que estava passando. Elas me ajudaram tanto a me entender melhor, quanto a externar coisas que, devido as circunstâncias, eu não pude dizer para certas pessoas. Eu escrevia pra mim, na esperança de resolver conflitos internos ou com os outros, mesmo sabendo que aquelas conversas não aconteceriam.
Nunca as mostrei para ninguém, nem mesmo pra mim mesma depois de um tempo. Acho que ler as coisas que escrevi, por mais que seja nostálgico, não tem o mesmo peso que escrevê-las. Eu nunca vou poder sentir o que senti novamente, não da mesma forma, porque não é algo que eu pudesse descrever em palavras e nem algo que hoje eu seja capaz de compreender, porém, escrever cartas, mesma que não sejam enviadas a ninguém, me fez e me faz bem.
Foi isso! Obrigada por ler até aqui!!
Esse texto foi produzido para o desafio escrita tagarela da
com o tema “cartas que nunca enviei”